terça-feira, 8 de maio de 2012

Política Contemporânea - O Fracasso da Democracia Representativa

Já comentei algumas idéias a respeito da necessidade da autonomia política local na vida das pessoas e da incapacidade dos grandes governos em responder aos grandes problemas atuais. Já comentei algumas vezes também sobre a ineficiência consciente e inerente aos sistemas atualmente em funcionamento no mundo. Bom, comentei sobre um monte de outras coisas, vai saber se alguém leu...
"Eu juro em nome do lobby..."


Eu sei, criticar a classe política hoje em dia parece meio como chutar quem já está caído - com a diferença de que, nesse caso, não está realmente caído. O problema é que a grande maioria das pessoas acredita que há furos no sistema - corrupção, superfaturamento, incompetência técnica e administrativa, favorecimentos, abusos de poder -, apenas falhas indesejáveis que devem ser sanadas. O que algumas pessoas já começaram, bem aos pouquinhos, a entender, é que o sistema foi feito para ser assim. Na verdade, enquanto as pessoas gritam contra a corrupção, por exemplo, o sistema é realimentado, com discursos de mudanças, novos controles, novas regras, vendendo uma idéia de que as pessoas estão sendo ouvidas e de que algo será resolvido. Bem, se tudo aquilo que origina os furos do sistema permanece tal e qual, tudo o mais é paliativo.

Quanto mais a autoridade pública é concentrada em grandes centros de poder, mais distante ela fica de sua respectiva sociedade, porém mais próxima dos lobistas e das grandes corporações. O representante político, por definição, está dentro da máquina do Estado mas longe do cidadão. De fato, permanece até protegido contra o tal cidadão! E se cidadãos comuns têm dificuldade em penetrar a máquina atrás de seus representantes, lobistas têm facilidade, prática e habilidade. O envolvimento direto entre representantes políticos e representantes dos grandes interesses privados não só é inevitável como é esperado. Dessa forma, a democracia representativa só seria capaz de atender aos anseios sociais se estes coincidirem com os grandes interesses privados. Talvez isso tenha sido verdade em algum tempo no passado, mas com certeza não é hoje.

Ainda que o fosse, essa noção de uma democracia organizada a partir de corporações - sindicatos, grupos empresariais, entidades de classe, igrejas, canais de tv -, cada uma fazendo valer o peso de seus interesses conforme o peso de sua própria presença na sociedade, a ineficiência do modelo é evidente. No momento em que se estabelece a relação política a partir de uma corporação, passa a existir o interesse dessa própria entidade, geralmente o interesse de seguir existindo, independente do interesse original que motivou sua existência e atuação política. O melhor benefício social possível para uma entidade de representação política seria alcançar definitivamente os interesses ou solucionar definitivamente os problemas que motivaram seu surgimento, eliminando assim a necessidade de sua própria existência. Sem chance.

Sendo, portanto, o interesse primário de uma entidade representativa a manutenção de sua própria existência, sua atuação se dará essencialmente em cultivar os problemas ao longo do tempo ou em estabelecer reservas de mercado para suas atividades, impondo uma relação de dependência à sociedade. Isso não é assim tão ruim. Fica ruim quando lembramos que, na democracia representativa, sempre haverá a estrutura político-partidária, ou seja, considere-se tudo o que foi dito acima em dobro. São duas camadas de ineficiência interagindo entre si pelos seus próprios interesses, tornando-se no fim um sistema praticamente fechado que só enxerga os anseios sociais quando estes precisam ser minimamente controlados. Agora sim parece ruim.

Essa realidade acaba tornando-se evidente em face da complexidade das demandas sociais atuais - devida a um elevado grau de informação de boa parte da população, algo inédito na história do mundo - e da relativa facilidade em atendê-las - graças aos avanços tecnológicos disponíveis. O político profissional é simplesmente incapaz de tratar questões técnicas, mesmo as simples. Ainda que ele perceba que deve dar uma melhor resposta ao público, antes que alguém toque fogo em alguma coisa, não consegue fazê-lo, porque não dispõe da capacidade técnica. E os técnicos capazes de resolver as coisas são abundantes hoje em dia, mas estão distantes do cenário político-partidário, e o jogo político os impede de pôr as mãos na massa. O Estado, controlado por políticos profissionais, é extremamente caro e absurdamente ineficiente, mas pretende continuar assim segundo o interesse das corporações que o controlam ou vivem dele.

Se faltava ainda alguma coisa para que as pessoas percebessem isso, veio finalmente a crise financeira que ainda se arrasta pelo mundo, e tornou mais evidente do que nunca que os partidos políticos e entidades de representação não têm soluções, não são capazes de alterar a lógica de procedimentos que já deram errado no passado e, principalmente, não são capazes de sacrificar seu próprio interesse em prol dos interesses sociais. Claro que não são, mas e aí? Qual é mesmo o ponto de tudo isso?

O fracasso do sistema político representativo não está em sua incapacidade de responder à população ou de combater seus próprios males, mas sim no fato de que não será mais capaz, daqui pra frente, de convencer as pessoas de que ele é necessário, ou o melhor modelo possível, que só precisa corrigir algumas falhas... Não, se quisermos resultados diferentes, precisamos fazer diferente. É certa perda de tempo pensar em grandes mudanças na economia e na sociedade sem pensar em um novo modelo de democracia - que alguns já chamam real ou verdadeira, considerando que a atual não é o poder do povo, mas sim de representantes indiretos - que efetivamente submeta o Estado aos anseios e aspirações sociais.
 
Algumas tendências já observáveis hoje em dia tornam mais fácil acreditar na viabilidade dessa nova democracia, como a prática do "do it yourself" (faça você mesmo), quando indivíduos assumem tarefas tradicionalmente delegadas ao Estado; o uso de redes sociais para discussão de políticas, projetos governamentais e até constituições; a formação de redes de comunidades autogeridas, que combinam a autonomia local com a integração global; e, finalmente, a adoção de novas tecnologias que tornam acessíveis serviços que até agora exigiam grande estrutura e capital, como energia, saneamento, educação e saúde.
A forma que terá esse novo Estado da democracia real é algo ainda em aberto. O certo é que o Estado corporativista da democracia representativa lutará por sua própria sobrevivência, e com todas as forças das instituições que morrerão com ele.

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