Este texto mais ou menos segue um outro anterior, Sociedade da Ineficiência, onde tentei esmiuçar o "problema". Agora, tento analisar
mais as soluções.
A ineficiência observada no mundo atual é
não apenas proposital como também necessária aos sistemas econômicos
vigentes. Dos problemas e carências, reais ou induzidos, advêm as
oportunidades de negócio e geração de renda - assim como, em
consequência, a concentração de poder político e econômico. Ou seja, os
grandes detentores de poder são também os mantenedores dos grandes
problemas mundiais. Vide a grave crise financeira tão alardeada, em
contraste com a riqueza desmedida dos senhores das finanças. Ou, ainda, a
miséria das guerras, em contraste com a prosperidade da indústria
armamentista e das grandes empreiteiras que atuam na "reconstrução" de
países.
Essas forças e interesses convergem e se materializam no Estado
Moderno, dominado e pautado por lobbies, financiamentos de campanha,
corporativismos e classismos. Disperso em questões menores, embromador
em questões maiores e omisso dos grandes problemas. Enfim, ineficiente
por vocação e destino. Alguns ainda acreditam na força do voto para
melhorar a representação política e a atuação do Estado. Abençoados
sejam em sua esperança, mas minha opinião já registrei anteriormente aqui no blog.
Algum Estado há de ser necessário, presume-se. E o "Estado mínimo" é aquele que menos faz e mais deixa fazer - o problema é quem e o que.
Entes privados ou auto-organizados tendem a ser mais eficientes que o
Estado, mas na consecução de seus próprios objetivos. Se esses entes são
os mesmos que, indiretamente, já governam hoje os Estados, os
resultados que já são ruins para a sociedade tendem a ser piores. O
Estado só será mais eficiente para a sociedade se for diretamente
controlado por essa sociedade - em outras palavras, se a sociedade tomar
as rédeas e tornar Estado o conjunto de suas decisões e ações diretas, sem intermediação.
A prática do "Faça Você Mesmo" (do it yourself, no original
em inglês) ainda é recente, mas se alastra rapidamente e vem
demonstrando o quanto é possível essa ação direta da sociedade. Munidos
das modernas ferramentas de comunicação, grupos independentes se formam
no exato instante em que surge um problema a ser tratado. Em pouco
tempo, trocam idéias e elaboram uma solução, partindo em seguida para
sua execução. Dependendo do tamanho do problema, o grupo que se forma
pode ser bem maior, e consegue até mesmo reunir recursos materiais e
expertises técnicas que se façam necessárias. Se esses grupos
encaminhassem seu problema, já com a proposta de solução, para uma
prefeitura ou qualquer outro órgão público, em quanto tempo teriam uma
resposta? E quanto tempo mais para iniciar a execução? E para concluir o
trabalho, se chegar a ser concluído? Agindo de forma direta, um grupo
bem organizado faz acontecer de um dia pro outro. E grupos que se reúnem
em torno de objetivos claros e interesses genuínos costumam ser muito
bem organizados.
O primeiro passo para fazer isso acontecer é entender que não se deve
esperar pelo Estado. Aliás, a melhor forma de pressionar o Estado a
fazer é fazer por ele, apresentando concorrência. A regra é: se você
mesmo pode fazer aquilo que necessita, então faça. Claro, uma discussão
prévia com vizinhos e concidadãos é de bom tom, e esse seria o segundo
passo. Esse é fácil. As redes sociais tornaram bastante natural o
contato direto das pessoas em grandes grupos ao mesmo tempo. Se todas se
interessarem de alguma forma por um tema, se envolverão. A maioria dos
temas que envolvem necessidades de uma comunidade ou vizinhança tendem a
ter consenso rápido. Por exemplo, se quero limpar uma praça, fechar
buracos de uma rua ou recuperar um calçamento, difícil alguém ser
contra, certo?
Por fim, estando todos corresponsabilizados pelo problema e entendidos
quanto à solução de consenso, vem a execução. Como um problema comum a
muitos tende a interessar muitos, se todos se envolverem e cada um fizer
sua parte, não fica pesado para ninguém. Mesmo que necessite de
recursos, como material ou equipamentos, um grupo grande com bons
contatos (novamente as redes sociais tornam isso fácil) corre atrás e
levanta o que precisa a custos acessíveis.
Em se disseminando essa prática, e as pessoas desenvolvendo as
habilidades do trabalho colaborativo e da discussão em rede, podemos
pensar em realizações cada vez maiores e mais complexas. Não há
impedimento técnico, é uma questão de escala. Em um grupo com milhares
de pessoas, quantos médicos, engenheiros e empresários haverá? Com
acesso cada vez mais fácil aos mais diversos recursos e tecnologias, o
que seria inviável a esse grupo? Minha teoria é de que, conforme a
escala de adesão das pessoas, dá para fazer qualquer coisa que um órgão
público faria (melhor e muito, muito mais rápido e barato), substituindo
aos poucos o Estado tradicional por uma sociedade auto-organizada em
rede. Seria o futuro da administração pública - nesse caso, pública de
verdade.
O Estado, tal como é hoje, há de ser mais um obstáculo do que um
facilitador do processo. Lógica da concorrência ao invés da colaboração.
Estados são instituições, e como tal lutarão de forma egoísta por sua
sobrevivência. Mas, por sua própria lógica legalista, utilizam as armas
erradas: muitas vezes, tentam prender, reprimir ou processar os cidadãos
que arregaçam as mangas como se fossem vândalos ou desordeiros. Tática
suicida, pois grupos cada vez maiores se envolvem nessa rede de
colaboração e proatividade. Lutar contra significa ir contra a própria
sociedade - e o que é um Estado que vai contra sua sociedade?
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